Virus Sincicial Respiratório (RSV)
A infecção por RSV afeta anualmente milhões de crianças menores de 5 anos em todo o mundo. Estima-se que ocorram cerca de 34 milhões de casos anualmente, com pelo menos 10% desses casos sendo graves o suficiente para exigir hospitalização.
As estatísticas revelam um impacto considerável, com aproximadamente 160 mil mortes atribuídas ao RSV a cada ano, principalmente em regiões em desenvolvimento, onde o acesso a cuidados de saúde de apoio é limitado. Estudos indicam que o RSV é responsável por aproximadamente 33,8 milhões de casos de infecções do trato respiratório inferior a cada ano, dos quais 3,3 milhões são graves o bastante para requerer hospitalização. Isso resulta em um triste saldo de 66 mil a 199 mil mortes de crianças menores de 5 anos em todo o mundo devido a complicações decorrentes dessa infecção.
No Brasil, um estudo conduzido por Alvarez e colegas, que envolveu 5.304 crianças com menos de 1 ano de idade, identificou que 2,1% delas foram hospitalizadas devido ao RSV. Entre as crianças hospitalizadas por RSV, 2,7% necessitaram de cuidados intensivos em unidades de terapia intensiva (UTI), 1,5% requereram ventilação assistida e 0,2% faleceram.
Em países de clima temperado, as epidemias de RSV ocorrem anualmente durante os meses de inverno. No entanto, em regiões de clima tropical, o padrão pode variar de acordo com a localidade, como observado no Brasil, onde o RSV predomina particularmente entre os meses de abril e agosto/setembro de cada ano.
Patogênese
A replicação do RSV começa nas células epiteliais da nasofaringe como estágio inicial. Este vírus pode posteriormente se disseminar para as vias respiratórias inferiores, dando origem à bronquiolite e pneumonia. É possível detectar antígenos virais tanto no trato respiratório superior quanto nas células epiteliais. A viremia é uma ocorrência rara.
O período de incubação, que é o intervalo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas, varia de 3 a 5 dias. A disseminação viral pode persistir por 1 a 3 semanas em crianças, enquanto em adultos, este período é geralmente mais curto, durando apenas de 1 a 2 dias. Crianças costumam apresentar altos títulos virais nas secreções do trato respiratório superior. Além disso, o tamanho do inóculo viral é um fator crítico para determinar o sucesso da infecção, tanto em adultos quanto em crianças.
A preservação da integridade do sistema imunológico desempenha um papel importante na resolução da infecção, uma vez que pacientes com comprometimento na imunidade celular podem manter uma infecção persistente pelo VSR, eliminando-o apenas após alguns meses.
Embora as vias respiratórias de recém-nascidos sejam estreitas e possam ficar obstruídas mais rapidamente devido à inflamação e ao edema, apenas um subgrupo de lactentes desenvolve uma forma grave da doença causada pelo VSR. Estudos indicam que a suscetibilidade à bronquiolite está relacionada geneticamente com polimorfismos nos genes da imunidade inata.
Manifestações Clínicas
A gama de sintomas respiratórios causadas pelo RSV varia, indo desde infecções assintomáticas ou semelhantes a um resfriado comum até pneumonia em crianças e bronquiolite em lactentes muito jovens. A bronquiolite é uma síndrome clínica distintiva associada a esses vírus. Aproximadamente 33% das primeiras infecções por RSV resultam em comprometimento grave das vias respiratórias inferiores, requerendo atenção médica. Isso pode manifestar-se por sibilos na criança.
A progressão dos sintomas pode ser rápida e, em casos graves, pode levar à morte. A reinfecção pelo RSV é comum tanto em crianças quanto em adultos, embora geralmente seja sintomática, limitando-se às vias respiratórias superiores e lembrando um resfriado em indivíduos saudáveis.
No contexto de pacientes submetidos a transplantes de medula óssea, as infecções por VSR representam cerca de 33% das infecções respiratórias. Pneumonia se desenvolve em aproximadamente 50% dos adultos e crianças imunocomprometidos, especialmente se a infecção ocorrer no período inicial após o transplante. As taxas de mortalidade relatadas variam de 20% a 80%.
Em idosos, as infecções por VSR podem causar sintomas semelhantes aos da influenza, incluindo pneumonia. Estima-se que em unidades de cuidados de longa duração, as taxas de infecção pelo RSV se situem entre 5% e 10%, com pneumonia ocorrendo em 10% a 20% dos infectados e taxas de mortalidade variando entre 2% e 5%.
Crianças que tiveram bronquiolite e pneumonia causadas pelo VSR quando eram lactentes, e aparentemente se recuperaram completamente, frequentemente apresentam anormalidades na função pulmonar durante vários anos. No entanto, não foi estabelecida uma relação de causa e efeito entre as infecções por RSV e essas anormalidades de longo prazo. É possível que certos indivíduos tenham características fisiológicas subjacentes que os tornem predispostos a infecções graves pelo vírus sincicial respiratório e a anormalidades pulmonares crônicas.
O VSR também é um agente etiológico importante na otite média. Estima-se que entre 30% e 50% dos casos de otite média ocorridos durante o inverno em crianças possam ser atribuídos à infecção pelo RSV.
Observa-se uma crescente preferência pelo emprego de técnicas que viabilizam a detecção precoce da infecção pelo RSV. O diagnóstico precoce apresenta notáveis vantagens, uma vez que possibilita a implementação de medidas destinadas a conter a disseminação do vírus, especialmente em ambientes como hospitais ou residências de idosos, e a administração antecipada de terapia antiviral. A seleção adequada de uma técnica de diagnóstico assume um papel fundamental para garantir a rapidez e a sensibilidade na detecção do RSV.
Metodologia diagnóstica
O estudo realizado por Reis e colaboradores examinou 316 amostras de secreção nasofaríngea obtidas de crianças com até 2 anos de idade, com o objetivo de detectar a presença do RSV. Foram utilizadas três abordagens diferentes para essa detecção, revelando que a técnica de Reação em Cadeia da Polimerase com Transcriptase Reversa (RT-PCR) se destacou como a mais sensível. Ela produziu resultados positivos em 35 das 316 amostras, correspondendo a uma taxa de 11,1%. Em seguida, a imunofluorescência direta identificou o vírus em 25 das 316 amostras, representando 7,9% dos casos, enquanto o isolamento viral detectou o RSV em 20 das 315 amostras, alcançando uma taxa de 6,3%.
O laboratório Bom Pastor oferece a metodologia de RT-PCR, assim como a literatura descreve sendo um técnica sensível, especifica e ágil, podendo ser uma metodologia empregada para o diagnóstico mais seguro do paciente.
Referências
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/49261
https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(22)00525-4/fulltext
https://www.cdc.gov/rsv/research/index.html
Alvarez AE, Marson FAL, Bertuzzo CS, Arns CW, Ribeiro JD. Epidemiological and genetic characteristics associated with the severity of acute viral bronchiolitis by respiratory syncytial virus. J Pediatr (Rio J). 2013 Nov-Dec;89(6):531-43.
Reis AD, Fink MCD, Machado CM, Paz JP, Oliveira RR, Tateno AF, et al; CHIADO and RDGV/FAPESP Research Groups. Comparison of direct immunofluorescence, conventional cell culture and polymerase chain reaction techniques for detecting respiratory syncytial virus in nasopharyngeal aspirates from infants.Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 2008 Jan-Feb;50(1):37-40.
Microbiologia médica de Jawetz, Melnick e Adelberg [recurso eletrônico] / Geo. F. Brooks ... [et al.] ; [tradução: Cláudio M. Rocha-de-Souza ; revisão técnica: José Procópio Moreno Senna].- 26. ed. - Dados eletrônicos. - Porto Alegre : AMGH, 2014.
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