Medicamentos que Afetam a Fertilidade Masculina
Além dos tratamentos quimioterápicos, outros medicamentos podem afetar negativamente a fertilidade masculina. Muitas vezes essas medicações são utilizadas pelos pacientes oncológicos para tratar outras condições de saúde durante ou após o tratamento do câncer e podem impactar a fertilidade de maneira direta (alterando a secreção hormonal e a espermatogênese) ou indireta (afetando a ejaculação e a ereção). Dessa forma, o monitoramento da fertilidade após a quimioterapia deve também considerar as terapias farmacológicas do paciente. Algumas classes de medicamentos que podem alterar a fertilidade são: antidepressivos, anti-hipertensivos, anticolinérgicos e hormônios.
Anti-hipertensivos: a hipertensão arterial é uma das doenças crônicas não transmissíveis de maior prevalência, atingindo cerca de 30% da população brasileira, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Estudos in vitro e em animais sugerem que medicamentos utilizados para o tratamento da hipertensão podem afetar processos necessários para a fecundação ou para a liberação do esperma. Os diuréticos tiazídicos diminuem o fluxo de sangue para o pênis, podendo reduzir a ereção. A espironolactona pode, além disso, diminuir a qualidade do sêmen devido à ação antiandrogênica, inibindo a produção de testosterona. Betabloqueadores como o propranolol também podem impactar a função erétil, além de diminuir a libido. Os betabloqueadores cardiosseletivos apresentam menos efeitos colaterais na função sexual. Experimentos in vitro e em roedores demonstraram que os bloqueadores de canais de cálcio como a nifedipina e o anlodipino podem interferir na reação acrossômica e estão associados à fertilidade reduzida nos machos. Contudo, apesar de pesquisas experimentais e de alguns estudos associativos mostrarem efeitos deletérios de medicamentos anti-hipertensivos na fertilidade, essa associação nem sempre é observada na clínica. Há um estudo de uma coorte na Suécia indicando que homens de casais que se tornaram pais utilizando a tecnologia de ICSI tinham um risco aumentado de usar tratamento anti-hipertensivo (Elenkov et al., 2018), mas há uma necessidade de estudos maiores para confirmar essa associação. A própria hipertensão pode afetar a fertilidade, estando associada com risco maior para disfunção erétil e alterações no sêmen, como baixa mobilidade, aumento das alterações morfológicas, diminuição no número total de espermatozoides e no volume do ejaculado.
Medicamentos para o tratamento da hiperplasia prostática benigna: a finasterida e a dudasterida são inibidores da 5-alfa-redutase, impedindo a conversão da testosterona a DHT (di-hidrotestosterona), diminuindo assim a concentração sérica e tecidual de DHT. A principal indicação da finasterida é o tratamento da alopecia androgênica, visando aumentar o crescimento capilar no couro cabeludo e prevenir a queda adicional de cabelos, mas, assim como a dudasterida, também é indicada para o tratamento e a prevenção da hiperplasia prostática benigna (HPB). Tanto a finasterida quanto a dudasterida podem causar leve diminuição no número e na motilidade de espermatozoides e no volume do sêmen. Os alfabloqueadores, como a doxazosina, alfuzosina, terazosina e tansulosina, são medicamentos utilizados no tratamento de primeira linha da HPB e podem causar alterações na função ejaculatória. A silodosina e a tansulosina podem diminuir ou até inibir o volume ejaculatório.
Medicamentos antidepressivos: alguns psicoterapêuticos, como os antidepressivos tricíclicos e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), podem impactar negativamente a fertilidade através da diminuição da função sexual, com queda na libido ou dificuldades na ereção. Esses medicamentos podem elevar as concentrações séricas de prolactina, suprimindo assim a secreção de GnRH e diminuindo a função sexual e a qualidade do sêmen. Os níveis altos de prolactina também inibem a ligação do LH às células de Leydig nos testículos, levando a uma supressão reversível da espermatogênese. Nesse sentido, estudos já demonstraram que homens tratados com ISRS ou antidepressivos tricíclicos tinham maior índice de alterações no espermograma, como diminuição no número de espermatozoides, menor motilidade e aumento na quantidade de danos no DNA. Contudo, é importante destacar que uma limitação desses estudos é o fato de que a própria depressão e a ansiedade podem por si só impactar diversos parâmetros da função reprodutiva.
Outros medicamentos: além das medicações citadas anteriormente, também podem causar impactos transitórios na fertilidade os seguintes agentes terapêuticos: o antifúngico cetoconazol; alguns antibióticos como a nitrofurantoína em altas doses, a tetraciclina e a eritromicina; o bloqueador de receptores histamínicos do tipo 2 cimetidina, utilizado no tratamento de úlceras estomacais; os medicamentos colchicina e alopurinol, utilizados no tratamento da artrite; e a sulfasalazina, utilizada no tratamento de doenças inflamatórias intestinais.
Quer saber mais sobre o assunto?
– Brezina PR, Yunus FN, Zhao Y. Effects of Pharmaceutical Medications on Male Fertility. Journal of Reproduction & Infertility 13(1): 3-11, 2012.
– Elenkov A, Al-Jebari Y, Giwercman A. More Prevalent Prescription of Medicine for Hypertension and Metabolic Syndrome in Males from Couples Undergoing Intracytoplasmic Sperm Injection. Scientific Report 8(1):14521, 2018. doi: 10.1038/s41598-018-32813-4.
– Mortimer D, Barratt CLR, Bjo¨rndahl L, de Jager C, Jequier AM, Muller CH. What should it take to describe a substance or product as ‘sperm-safe’. Human Reproduction Update 19 (1): i1–i48, 2013. doi:10.1093/humupd/dmt008.
– Nudell DM, Monoski MM, Lipshultz LI. Common medications and drugs: how they affect male fertility. Urology Clinicis of North America 29: 965–973, 2002.