Diagnóstico Laboratorial da Sífilis
A sífilis é uma infecção sistêmica causada pelo Treponema pallidum, cuja transmissão ocorre principalmente por via sexual e vertical. O curso da infecção não tratada passa pelos estágios de sífilis primária, secundária e terciária, caracterizada por períodos de atividade e latência, podendo acarretar sequelas irreversíveis. A sífilis latente é reconhecida como recente (até um ano após exposição) e tardia (superior a um ano de evolução). O diagnóstico de sífilis pode ser realizado por exames diretos ou testes imunológicos (testes não treponêmicos e treponêmicos), dependendo da fase da doença.
1-Pesquisa de T. pallidum em campo escuro
A amostra utilizada é o exsudato coletado a partir de lesões ativas da sífilis primária ou secundária. Não é indicada para lesões orais devido à existência de outras bactérias espiraladas na boca que podem levar à confusão diagnóstica. Sugere-se que o material seja coletado no laboratório, pois deve ser analisado imediatamente após a coleta. A sensibilidade relatada pela literatura varia entre 74%-86% e a especificidade é de cerca de 97%.
2-Pesquisa de T. Pallidum por PCR
Hoje é possível realizar a pesquisa de lesão oral ou genital por biologia molecular (pesquisa do DNA da bactéria) com 100 % de especificidade por metodologia de PCR (Reação em cadeia da polimerase) que permite produzir uma quantidade enorme de cópias de pequenas porções do DNA que se deseja estudar. Este exame faz parte da rotina do serviço de biologia molecular do Laboratório Bom Pastor.
- Testes imunológicos para sífilis
O diagnóstico laboratorial e o monitoramento do tratamento são realizados por meio de testes sorológicos, que são divididos em testes não treponêmicos (baseados em anticorpos anticardiolipina= VDRL) e testes treponêmicos (específicos para detecção de anticorpos antI T. pallidum), com desempenho variável conforme o teste e a fase da doença.
3.1 Testes não treponêmicos
Os testes não treponêmicos são realizados pela metodologia de floculação. Os resultados, quando positivos, são liberados na forma clássica de títulos (são realizadas diluições sucessivas do material, e o título liberado é o da última diluição reagente). Os títulos são variáveis de acordo com a doença em atividade e sua queda/negativação é utilizada no monitoramento do tratamento.
Os resultados falso-positivos são as principais desvantagens deste teste, que podem acontecer devido à reação cruzada com outras infecções, gravidez, doenças autoimunes e uso de drogas ilícitas.
Resultados falso-negativos podem ocorrer em casos de infecção muito precoce ou tardia, pois o teste não treponêmico apresenta menor sensibilidade no estágio primário (78%-85%) e terciário (cerca de 73%). Também podem ocorrer pelo fenômeno prozona (ausência de reatividade aparente em amostra não diluída com altos níveis de anticorpos). Essa situação é evitada com a diluição padrão a 1:8 para todas as amostras testadas.
3.2. Testes treponêmicos
Detectam anticorpos específicos (IgM e IgG) para antígenos treponêmicos (lisados de T. pallidum ou antígenos recombinantes). Em geral, são qualitativos, e apesar do tratamento bem-sucedido, permanecem positivos por toda vida, portanto, não são utilizados para avaliação de resposta terapêutica. Os diferentes testes treponêmicos que podem ser aplicados estão resumidos no Quadro 1
Quadro 1. Metodologias disponíveis em testes treponêmicos
Imunoensaios Quimioluminescentes e suas variações
Consistem em partículas revestidas com antígenos de T. pallidum que formam complexos com anticorpos anti-T. pallidum presentes na amostra. Um anticorpo marcado com um revelador (geralmente ficoeritrina) liga-se ao complexo e emite o sinal quimioluminescente (ou outro tipo de sinal conforme a tecnologia). Pode ser automatizado, por isso é adequado para triagem de grandes rotinas, como populações assintomáticas e doadores de sangue
Testes Imunocromatográficos
São de fácil execução, manuais, com resultados geralmente em menos de 20 minutos. Utilizam antígenos de T. pallidum ligados a um agente revelador, com uma região delimitada de controle interno da reação. Pode ser utilizado como teste de triagem rápida ou teste confirmatório
FTA-ABS
É um teste manual, caro e requer profissionais capacitados em microscopia de fluorescência. É realizado em lâminas com antígenos do T. pallidum nos quais os anticorpos anti-T. pallidum presentes na amostra se ligam. Em seguida, uma imunoglobulina anti-humana marcada com fluoresceína liga-se ao complexo Ag-Ac, e essa reação pode ser visualizada pelo microscópio de fluorescência
O Ministério da Saúde, por meio de Manual Técnico, recomenda a aplicação de algoritmos para o diagnóstico sorológico de sífilis, com uma combinação de teste treponêmico e não treponêmico aplicados à mesma amostra. A Figura 2 baseia-se no fluxograma reverso (fluxograma 2 do manual), indicado para serviços com boa infraestrutura de automação, por permitir a liberação rápida dos resultados e processamento de um grande número de amostras diariamente. O Manual Técnico para Diagnóstico da Sífilis pode ser consultado na íntegra em www.aids.gov.br
- Monitorização terapêutica
Para seguimento, os testes utilizados são do tipo não treponêmico e devem ser realizados mensalmente nas gestantes e a cada três meses na população geral (1º ano) e posteriormente a cada seis meses. É compatível com sucesso de tratamento a queda de duas diluições em três meses (ex: de 1:64 para 1:16) ou três diluições em seis meses (ex: de 1:64 para 1:8). A persistência de títulos baixos (1:1 até 1:4) é chamada memória sorológica e pode ocorrer em uma minoria de indivíduos, não significando falha de tratamento; caso haja elevação da titulação em dois títulos ou mais, deve-se considerar a possibilidade de reinfecção/reativação. Testes treponêmicos não devem ser utilizados para monitorização terapêutica, esperase que permaneçam reagentes pelo resto da vida. É importante que conste no pedido médico o dado de “controle de tratamento” para que seja realizado somente o teste não treponêmico
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